Os números trazem certo otimismo, já que a venda de espumantes vem crescendo nos últimos anos. Se considerarmos a comercialização da bebida produzida no Rio Grande do Sul, o ano de 2021 teve quase 40% de aumento em relação a 2020, segundo a Uvibra, União Brasileira de Vitivinicultura. E, para não atribuirmos esse crescimento somente à pandemia, em uma comparação com 2017 - considerado um ano bom pela Uvibra - o aumento foi de 74%.
Ainda assim, seu consumo é mais concentrado nos meses festivos, e o porquê disso remonta a alguns séculos na história.
A descoberta do espumante é comumente atribuída à Dom Pérignon, um monge beneditino e estudioso de vinho da região de Reims, nordeste da França. O feito teria sido um acaso: os vinhos muitas vezes apresentavam uma efervescência natural, que era tida como defeito. Enquanto realizava experimentos para contornar o que parecia ser um problema, Pérignon teria provado um desses vinhos e se encantado com o que descobriu. Diz a lenda que foi aí que soltou a icônica frase: “Estou bebendo estrelas”.
Verdade ou não, o “pop” ficou por muito tempo ao delicioso som da rolha espocando, já que, de popular mesmo, a bebida não tinha nada. O champagne era considerado bebida de prestígio e luxo, constantemente usado nas celebrações nos suntuosos palácios da realeza sa.
Os anos e novas técnicas de vinificação e envase permitiram que o Champagne fosse não somente distribuído como também reproduzido em todo o mundo. Aqui vale lembrar que "Champagne" é uma Denominação de Origem Controlada e só pode ser atribuída a vinhos espumantes produzidos na província homônima da França. Nas demais regiões devem ser chamados de "espumantes", apenas.
O mercado não tardou em diversificar os estilos para atender a demanda crescente. O método de elaboração tradicional francês, também conhecido como Champenoise, começou a dividir a cena com novos processos, como o Charmat. No primeiro, a segunda fermentação acontece dentro da garrafa; no segundo, em tanques de inox, o que barateia o custo de produção.
Mais íveis, mais consumidores aram a desfrutar das borbulhas dos espumantes. Além da diversificação do custo, os variados níveis de açúcar que resultam da vinificação - classificados como nature, extra-brut, brut, seco, meio seco e doce - acabaram por democratizar a bebida.
Se estamos falando de uma bebida leve, fresca e versátil, estamos falando de uma combinação perfeita para a pluralidade cultural - e gastronômica - do Brasil. Une-se a isso a qualidade crescente dos espumantes produzidos aqui. Segundo a Uvibra, em 2021, 303 das 414 medalhas obtidas por vinhos brasileiros foram para espumantes.
Muito desenvolvimento tem sido feito no setor e novidades não param de chegar. Um bom exemplo é o espumante Névoa das Encantadas da Chandon que mistura diferentes métodos de elaboração. Trata-se de um vinho curioso, que muda seu perfil aromático se exposto à luz e chega à taça mais ou menos turvo a depender da inclinação da garrafa enquanto a bebida é servida, já que não a por filtragem das leveduras.
O ineditismo do produto recém lançado é mais um o largo na direção de atrair mais enófilos e, quem sabe, posicionar o espumante muito em breve como preferência nacional.
Priscilla é jornalista, sommelière e idealizadora do perfil @deondevinho no Instagram. Ela deixa claro que por lá não fala sobre vinhos, mas sobre momentos. É que o vinho está em todos!