No interrogatório a que foi submetido nesta semana no STF, Cid afirmou que não usou redes sociais no período em que estava sob medidas restritivas.
Cid, ao ser questionado pelo advogado Celso Vilardi, que representa Bolsonaro, se fez uso de um perfil no Instagram que não está no nome dele, respondeu desconcertado que “não”. “Todos os meus celulares foram apreendidos”, completou.
Vilardi então pergunta se Cid “conhece um perfil chamado @gabrielar702?”. Cid responde: “Esse perfil, eu não sei se é da minha esposa”.
Nesta quinta-feira (12), a reportagem de Veja traz prints do que seria uma troca de mensagens entre o militar usando justamente um perfil de nome “Gabriela R” com alguém do círculo próximo do ex-presidente. De acordo com a publicação, o conteúdo aponta jogo duplo do delator. Relatava ao interlocutor versão diferente das dadas nos depoimentos do acordo de colaboração premiada.
Por ser réu colaborador, o militar se comprometeu a falar a verdade, sob pena de ter a delação anulada e perder benefícios.
Ao fazer as perguntas, ainda segundo a revista, Vilardi sabia que Cid havia desrespeitado ao menos duas determinações impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do processo no STF -- e as provas de que isso de fato aconteceu estão no conjunto de mensagens.
Enquanto fornecia à PF informações sobre a movimentação antidemocrática, contava a pessoas próximas uma versão completamente diferente do caso. Nessas conversas, revelou a terceiros o teor de seus depoimentos à PF e bastidores do que se ava durante as audiências.
O perfil supostamente usado pelo militar fala em pressões, conta que o delegado responsável pelo inquérito tentava manipular suas declarações e diz que Alexandre de Moraes já teria decidido condenar alguns réus antes mesmo do julgamento.
As mensagens obtidas por VEJA teriam sido trocadas entre 29 de janeiro e 8 março de 2024, segundo a revista, cinco meses antes de o acordo de colaboração premiada ter sido homologado por Alexandre de Moraes.
Nos diálogos, segundo a revista, o militar fala abertamente das longas oitivas que estava tendo de enfrentar -- “Foram três dias seguidos” -- e do desconforto em relação ao trabalho dos investigadores -- “Toda hora queriam jogar para o lado do golpe... e eu falava para trocar porque não era aquilo que tinha dito”.
De acordo com a reportagem, Cid se mostra resignado com o futuro. “Eu acho que já perdemos… Os Cel PM (coronéis da Polícia Militar do Distrito Federal) vão pegar 30 anos… E depois vem para a gente”, diz. Uma das alternativas naquele momento para evitar as prisões de todos, na avaliação dele, seria um movimento conduzido pela cúpula do Congresso. “Só o Pacheco ou o Lira vai (sic) nos salvar. O STF está todo comprometido. A PGR vai denunciar”, acrescenta.
O acordo de colaboração tem cláusulas rígidas. Para ter direito a benefícios, Cid não pode mentir, omitir, desviar a investigação com versões conflitantes nem proteger ninguém.
No interrogatório do STF, ladeado de Bolsonaro e outros cinco integrantes da alta cúpula do antigo governo, ele reafirmou ter presenciado reuniões entre o ex-presidente e militares nas quais foram discutidas medidas que poderiam ser implementadas para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT); disse também que Bolsonaro acreditava em fraude nas urnas eletrônicas e confirmou ter ouvido que então comandante da Marinha, Almir Garnier, teria colocado suas tropas à disposição do ex-presidente.
Para o Ministério Público, essas informações, aliadas a documentos e outros depoimentos colhidos durante a investigação, não deixam dúvidas de que Bolsonaro e seus auxiliares tentaram um golpe de Estado no fim de 2022.
À CNN, a defesa classifica como montagem as capturas de tela anexadas à reportagem. De acordo com os advogados, Cid não escreve da maneira como é retratado nas mensagens e destacam que as capturas de tela não identificam data ou horário