Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Way Investimentos e coordenador de economia da ESPM, ofereceu sua análise sobre o tema, destacando os possíveis impactos negativos desta medida na economia brasileira.
Segundo Espírito Santo, o aumento do IOF pode ser comparado a um aumento indireto da taxa Selic.
"Se olharmos sob o aspecto de que o IOF aumenta o custo das captações e dos empréstimos, isso é mais ou menos um aumento de Selic indireto", explicou o economista ao CNN Money.
De acordo com análises da XP Investimentos, o efeito do aumento do IOF é equivalente a um aumento entre 0,25 e 0,5 ponto percentual na taxa Selic, que atualmente está em 14,75%. Na prática, isso significa que a economia brasileira pode funcionar como se a Selic estivesse em até 15,25%.
O economista criticou duramente a decisão do governo, classificando o IOF como um "imposto ultraado" e "recessivo".
"É um imposto da década de 60, um imposto regulatório. Todos os impostos são discutíveis sobre o aspecto do consumidor, porém esse imposto não agrega, ao contrário, ele é um imposto recessivo", argumentou Espírito Santo.
O aumento do IOF tem encontrado resistência no Congresso Nacional. O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Mota (Republicanos - PB), expressou sua oposição à medida, indicando que o Legislativo pode tomar medidas para derrubar o decreto presidencial que elevou o imposto.
Espírito Santo vê nesse ime uma possível tentativa do Congresso de chamar o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para negociar diretamente.
"O que o Congresso está querendo é chamar o presidente Lula para a mesa para negociar, porque o ministro Haddad e sua equipe receberam uma sinalização dos presidentes [das casas legislativas]: 'Você tem 10 dias para fazer algo alternativo, senão nós vamos brecar'", ponderou o economista.
Quanto às alternativas ao aumento do IOF, Espírito Santo mencionou a possibilidade de um aumento no contingenciamento de gastos. No entanto, ele ressaltou que cortes de gastos não são comuns no Brasil, onde os ajustes fiscais geralmente vêm pelo lado da receita.
O economista também destacou a necessidade de reformas estruturantes no país. "Nós precisamos fazer uma reforma profunda do estado brasileiro. Há muito tempo que isso urge, é necessário, é indispensável", afirmou.
Em relação às perspectivas para a taxa Selic, Espírito Santo acredita que, caso o aumento do IOF seja revertido, o Banco Central (BC) poderá manter a taxa em 14,75% até o final do ano.
Segundo ele, reduções na taxa básica de juros só devem ocorrer a partir do início do próximo ano, com cortes pontuais de 0,25 ponto percentual.