A pesquisa destaca que a maior parte dessa exposição ao material particulado fino (PM2.5 tecnicamente, partículas com diâmetro igual ou inferior a 2,5 micrômetros) ocorre em ambientes internos — onde amos a maior parte do tempo — e que a fumaça consegue infiltrar-se mesmo com portas e janelas fechadas. Esse tipo de material particulado corresponde a uma fuligem extremamente fina, capaz de atingir as regiões mais profundas do sistema respiratório.
A exposição a esse poluente está ligada a diversos problemas, incluindo o agravamento de quadros como asma, bronquite e doença pulmonar obstrutiva crônica, além de elevar o risco de infecções nas vias respiratórias e comprometer a capacidade pulmonar, sobretudo em crianças e pessoas idosas.
O material particulado fino (PM2.5) pode atuar como um transportador de outros poluentes, funcionando como uma espécie de “carona” para substâncias tóxicas presentes no ar. Essa fuligem fina adsorve outros poluentes, levando-os consigo para o interior do sistema respiratório. Isso potencializa os danos à saúde, tornando o PM2.5 um dos poluentes mais perigosos para o ser humano. O mapa a seguir mostra a concentração anual, em ambientes internos, desse poluente entre 2003 e 2022.
Segundo o trabalho publicado na Science Advances, a América do Sul está entre as regiões mais afetadas pela poluição interna causada por incêndios florestais, com destaque para o Brasil, onde os custos indiretos relacionados à exposição superam US$ 1,9 bilhão por ano.
Os autores alertam para a necessidade urgente de políticas públicas de prevenção, incentivo à inovação em tecnologias de purificação do ar e mecanismos de apoio internacional às populações mais expostas aos impactos da crise climática.
Com a chegada do período seco, aumentam as preocupações com as queimadas no Brasil, na Bolívia e no Paraguai. Embora até o momento o número de focos de incêndio seja inferior ao de 2024, é importante lembrar que chuvas mais intensas só devem retornar dentro de quatro meses.
Em recente artigo, a revista Nature advertiu que o Human Studies Facility, um importante centro de pesquisa nos Estados Unidos dedicado a analisar os efeitos da poluição do ar na saúde humana, está sendo fechado por decisão do governo do presidente Donald Trump.
A medida desencadeou uma mobilização entre cientistas que buscam impedir o encerramento das atividades. Localizado no campus da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill, o Human Studies Facility possui nove câmaras herméticas nas quais pesquisadores avaliam, de forma controlada, os danos à saúde causados pela fumaça de queimadas e pela emissão de gases veiculares.
A decisão foi tomada pela istração de Serviços Gerais dos EUA, que, em fevereiro, rescindiu o contrato de aluguel com a universidade. Como consequência, a Agência de Proteção Ambiental (EPA), responsável pelo laboratório, começou o processo de desativação da unidade. A notícia causou preocupação entre especialistas, que consideram a estrutura única e insubstituível no país.
O fechamento de centros de pesquisa especializados, como o Human Studies Facility, acende um sinal de alerta. Em vez de enfraquecer a produção científica, o momento exige justamente o fortalecimento de estruturas que ajudam a entender e combater os impactos da poluição do ar. Proteger a saúde da população a, necessariamente, por decisões políticas que estejam alinhadas com a ciência.